quinta-feira, 16 de julho de 2009

A SOCIEDADE IMAGÉTICA E A INFORMAÇÃO INSTANTÂNEA.

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Pode ser desalentador para redatores como eu, que sempre tiveram os títulos em destaque e laudas de texto que pareciam livros, de tão extensos, estampados em layouts onde as imagens (ilustrações ou fotos) eram meros coadjuvantes. Mas os diretores de arte se vingaram, e a comunicação mudou. Ela hoje privilegia a imagem sobre o texto, e isto quando tem texto! Até meu portifolio se rendeu a esta dança, e tem um anúncio pro Green Peace que segue esta tendência: imagem de um peixe do Pantanal, com uma máscara antipoluição e assinatura. Só. E diz tudo.

Esta tendência não surgiu do nada. É fruto de nossa sociedade imagética, que gera um verdadeiro congestionamento de ícones e mensagens bombardeando as pessoas diariamente. Parece a Avenida 23 de Maio em São Paulo na hora do rush. Esta superexposição de imagens está presente em tudo: na TV, celular, computador, outdoor, adesivações em lugares inimagináveis, ações de guerrilha com um grupo de teatro em intervenção urbana, malas diretas com o nome da própria pessoa, enfim, este fantástico e sedutor universo multimídia faz com que as mensagens sejam cada vez mais instantâneas, e neste exercício de síntese, elas devem ser resumidas ao máximo. Isto por um lado é bom, porque nos dá uma visão panorâmica e geral do mundo, do ponto de vista de diferentes culturas que a globalização e a internet (e hoje o Twitter, Facebook e demais redes de relacionamento), aproximou. E mais do que aproximar, promoveu a interatividade, superando o velho conceito de McLuhan, de emissor-receptor, para ação – interatividade – reação. As mensagens publicitárias são cada vez mais adaptadas a esta linguagem. Quando tem um título, é curto, e diz tudo, sem a necessidade de um texto complementar. E nos vídeos, a síntese também é a tônica. Muitas imagens, cortes rápidos, histórias óbvias. A dinâmica dos vídeos e filmes segue o mesmo estilo de Hollywood, com cenários incríveis, muitos cortes e histórias fáceis, em contraposição a uma estética mais de cinema europeu, reflexivo, denso.

Isto gera um questionamento essencial: até que ponto esta instantaneidade da informação não suprime um aprofundamento maior do conteúdo?

E até que ponto a informação não vem pré-digerida demais, sem abrir espaço a um questionamento maior do que é percebido?

Os noticiários de TV passam tudo o que aconteceu, de forma enlatada. “o mundo é assim, fulano é o bonzinho, sicrano o mauzinho e a tendência é x.”

Tudo pronto. A pessoa não precisa nem pensar. Pesquisa escolar ou de trabalho? No buscador da internet, em segundos vem o que a pessoa procura, e aí é só mover os dedinhos nas teclas “Control C” e “Control V”. Fácil. Mas esta dinâmica vertiginosa das comunicações não pode descuidar da essência, que é a informação como conhecimento. É preciso promover um equilíbrio entre informação e entretenimento, e isto serve tanto para os veículos de comunicação quanto para as agências, com suas campanhas. Não abdicar nunca do debate, da informação, da curiosidade, do bom roteiro e da boa ideia (agora sem acento, mais essa!!!) que supera qualquer efeito especial, qualquer 3D, qualquer verniz de reserva, que, como toda droga, vicia, ilude, mas não resolve nenhum problema e ainda faz mal. Chegou a hora de nos desintoxicarmos desta síntese que tem até uma boa embalagem, mas é vazia por dentro. Porque senão, o homem vai deixar de falar para se comunicar por mímica (o primeiro passo desta involução é a linguagem telegráfica do MSN). E daí, vai deixar de ser comunicação e ficar mais próximo do “uga-uga” do Tempo das Cavernas.

Ler não dói. Não passa doença contagiosa.

E cultura não é só o próximo passinho que vão inventar no Carnaval.

Caio Teixeira é redator, escritor e também já atuou como diretor de criação em várias agências em 30 anos de carreira, atendendo a todo tipo de job, desde anúncio de cachorro perdido até grandes campanhas, algumas adaptadas para toda a América Latina. E ainda lê livros!!!.http://teixeiracaio.sites.uol.com.br

Um comentário:

Regiane Barros disse...

Por que não volta a escrever no blog. O texto é maravilhoso!